Piaget contribuiu imensamente para a nossa compreensão do desenvolvimento cognitivo. A obra de Piaget teve e continua a ter grande impacto sobre a psicologia. Sua principal contribuição está em que ele nos estimulou a considerar as crianças sob uma nova perspectiva e a ponderar o modo como elas pensam. Como cientista, Piaget sabia que a sua obra não seria um ponto final da investigação. Seus seguidores beneficiaram-se de seu trabalho e de seus insigths, embora suas investigações levassem-nos a questionar muitas das conclusões específicas de Piaget e até algumas de suas observações. Para dar-lhe uma perspectiva mais detalhada da posição de Piaget no campo da psicologia do desenvolvimento, temos de considerar algumas das principais críticas à sua teoria.

Uma delas questiona diretamente a sua afirmação de que as mudanças na cognição infantil ocorrem, principalmente, como resultado dos processos maturativos. Apesar de observar que os processos de desenvolvimento resultam de adaptações das crianças ao seu ambiente, Piaget sustentava que são os processos maturativos internos, em vez dos contextos ou eventos ambientais, que determinam a sequência da progressão do desenvolvimento cognitivo. A evidência das influências ambientais no desempenho infantil nas tarefas piagetianas contradiz essa premissa. Disso conclui-se que a sua teoria é contestada pela evidência de que determinadas experiências , treinamento ou outros fatores ambientais podem alterar o desempenho nas tarefas piagetianas.

Sua principal contribuição está em que ele nos estimulou a considerar as crianças sob uma nova perspectiva e a ponderar o modo como elas pensam. Como cientista, Piaget sabia que a sua obra não seria um ponto final da investigação

Uma influência ambiental óbvia no desenvolvimento cognitivo é a da cultura. O contexto cultural parece influenciar o desenvolvimento cognitivo tão cedo quanto o estágio sensório-motorde Piaget. Em uma revisão de mais de 50 estudos, realizada pela psicóloga desenvolvimentista Emmy E. Werner em seu estudo “Infants around the world”, os bebês de sociedades não ocidentais (por exemplo, na Áfria subsaárica e em alguns países asiáticos e latino-americanos) geralmente demostravam habilidades psicomotoras em idades mais precoces do que os bebês de sociedades ocidentais. A evidência transcultural adicional de diferença no ritmo ou na sequência de estágios do desenvolvimento cognitivo infantil ou, mesmo, de diferenças no desempenho de adultos nas tarefas piagetianas opõe-se às predições da teoria piagetiana.

Uma segunda crítica manifesta-se porque muitos teóricos do desenvolvimento questionam a pressuposição fundamental de Piaget, ou seja, de que o desenvolvimento cognitivo ocorre em uma sequência fixa de pequenos esforços repentinos e descontínuos (spurts), ao longo dos domínios da tarefa, das tarefas em si e dos contextos. Com relação à descontinuidade do desenvolvimento, muitos teóricos acreditam que o desenvolvimento cognitivo ocorre como um processo contínuo, em vez de em estágios descontínuos de desenvolvimento. Adicionalmente, a evidência cumulativa contradiz a suposição de que, dentro de um determinado estágio de desenvolvimento, as crianças demonstram níveis de desempenho adequados ao estágio, ao longo dos domínios da tarefa, das tarefas e dos contextos. Atualmente, parece que muitos aspectos do ambiente físico e social da criança, das suas experiência prévias com a tarefa e os materiais da tarefa e, ainda, da própria apresentação do experimentador da mesma podem levar a uma visível desigualdade no desenvolvimento cognitivo.

Terceira, os teóricos e os pesquisadores questionaram a interpretação de Piaget, com relação às causas da dificuldade das crianças em determinadas tarefas piagetianas. A teoria de Piaget enfatizava o desenvolvimento dos raciocínios dedutivo e indutivo, e ele sustentava que as limitações na capacidade de raciocínio das crianças causavam suas dificuldades na resolução de determinadas tarefas cognitivas. Diferentes teóricos sugeriram que outros tipos de limitações podem influenciar, pelo menos parcialmente, o desempenho das crianças nas tarefas piagetianas. Essas limitações incluem a coordenação motora infantil, a capacidade de memória de trabalho, as estratégias de memória ou a compreensão verbal das questões. Por exemplo, alguns sugerem que as crianças, seguidamente, podem não ter entendido as questões de Piaget, de modo que seus experimentos não trazem à luz o conjunto completo de capacidades das mesmas (veja figura abaixo).

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INCLUSÃO DE CLASSE – Em uma tarefa, Jean Piaget pedia às crianças que observassem um conjunto de bolas de gude, como estas aqui mostradas. Ele, depois, fazia-lhes a pergunta de inclusão de classe: “Há mais bolas de gude azuis ou mais bolas de gude?” As crianças no estágio pré-operatório, frequentemente, respondiam: “Há mais bolas de gude azuis”. Alguns pesquisadores sugeriram que elas não entendiam realmente a pergunta um tanto estranha. Em vez disso, elas acreditavam que Piaget estava pedindo-lhes que comparassem as bolas de gude azuis com as bolas de gude verdes. – isto é, os dois subconjuntos da classe, não o subconjunto da classe com a classe que inclui o subconjunto.

Quarta, muitos teóricos questionaram a exatidão das suas estimativas sobre as idades nas quais as pessoas demonstram domínio das tarefas piagetianas. O próprio Piaget enfatizava a importância de observar-se a sequência de desenvolvimentos, não as idades estimadas nas quais tais desenvolvimentos ocorriam. Em geral, a tendência dirigia-se a demonstrar que as crianças podem fazer as coisas em idades mais precoces do que ele achava possível.

Na outra extremidade do espectro, nem adolescentes e adultos mostram o pensamento operatório formal, sob muitas circunstâncias. Seguidamente, parecem pensar associativamente, em vez de logicamente. Em 1972, Piaget modificou sua própria teoria, a fim de reconhecer que o estágio de operações formais pode ser mais um produto da perícia de uma pessoa, específica para o domínio e baseada na experiência, do que dos processos maturativos do desenvolvimento cognitivo.

Finalmente, a variação nas idades em que determinadas tarefas cognitivas dão dominadas mostra que a maioria de nós tem uma ampla variação de desempenho, de modo que o que podemos ser otimamente  capazes de fazer, frequentemente, difere do realmente fazemos, em grande parte do tempo. O contexto no qual demonstramos tipicamente o desempenho cognitivo pode não ser uma indicação verdadeira do que somos capazes de realizar –  e vice versa. Um meio de observar essas visíveis contradições é descrevendo a teoria de Piaget como essencialmente uma teoria da competência – uma teoria do que as pessoas de várias idades são maximamente capazes de fazer. Outros teóricos preferem considerar o desenvolvimento cognitivo em função de uma teoria do desempenho – uma teoria do que as pessoas de várias idades fazem naturalmente, em suas vidas cotidianas.

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