A pior toxina que pode ter sido inoculada em nós, consiste em acreditarmos que, enquanto indivíduos e cidadãos comuns, somos impotentes para promover mudanças sociais. A sensibilidade complexa – aqui discutida – nos ensina que a parte e o todo estão intimamente ligados e que o somatório das pequenas ações e das interações entre elas, transcende seu aspecto local, podendo produzir efeitos surpreendentes no todo.
Por esta razão, precisamos, urgentemente, ressignificar os grandes desafios coletivos que enfrentamos hoje. Uma ressignificação sob a lente de uma sensibilidade complexa que promova a religação de múltiplos saberes e talentos – atualmente dispersos e muitos ainda desconhecidos -, para lançar novas luzes sobre os principais dilemas de nosso tempo.
O principal dilema coletivo que enfrentamos hoje é o desafio da colaboração. Não somos capazes de nos unirmos em torno de objetivos comuns que nos mobilizem de forma coordenada para construir um futuro desejado. Essa incapacidade de construir e perseguir metas coletivas reflete-se na perpetuação da corrupção, das desigualdades sociais extremas, do aquecimento global, da violência e do crescente desinteresse das pessoas pela vida cívica de suas comunidades.
Perdemos o hábito de discutir o futuro de nossa sociedade em ambientes institucionais. Aqueles que hoje ainda ousam fazê-lo, são chamados de tolos e ingênuos.
Nunca tivemos instituições (públicas e privadas) tão cínicas, egoístas e pobres de imaginação como nos dias atuais. Crias legítimas da sociedade desumana, cínica, egoísta e irresponsável em que vivemos.
O debate público – rico em imagens e miserável em imaginação – é monopolizado por burocracias sociopatas sem qualquer compromisso com o país. Seus integrantes só pensam nos próprios bolsos.
De maneira ingênua procuramos respostas nas transformações individuais – investindo tempo e recursos em livros de autoajuda e em terapias excessivamente individualistas –, quando deveríamos nos concentrar nas transformações coletivas. É ilusório achar que construiremos um mundo melhor transformando um indivíduo de cada vez. A unidade básica de transformação social sempre foi (e sempre será!) o grupo, nunca o indivíduo.
Os grupos, organizações e coletivos em geral, por sua vez, são vistos hoje como meros instrumentos para alcançar objetivos individuais. Assim, estamos sempre tentando aprender em grupo quando deveríamos aprender como grupo.
Precisamos construir uma infraestrutura cívica nacional de colaboração. Composta por espaços físicos e simbólicos onde possamos, juntos, reimaginar a nossa vida em comunidade e a nossa relação com os nossos semelhantes. Reimaginar as estruturas e relações de poder em nossas comunidades. Reimaginar os espaços e os contextos onde o debate público acontece. Reimaginar as nossas instituições públicas e privadas. Reimaginar o nosso papel no mundo.
Todos os desafios acima apontados só serão enfrentados quando assumirmos as rédeas do nosso próprio destino. Afinal, como esperar que aqueles que se elegeram para roubar, sejam os responsáveis pelo fim da corrupção? Precisamos aprender a maneira certa de colaborar. Precisamos construir um processo colaborativo que crie um amplo e profundo sentimento de responsabilização coletiva em todos nós. É com este objetivo que eu criei este blog e o Instituto Hélio Teixeira.
Sob a ótica de uma sensibilidade complexa, queremos discutir e propor novos caminhos para aumentar a capacidade colaborativa de nossas organizações, comunidades, e coletivos em geral. Mas não é qualquer tipo de colaboração que nos interessa. A colaboração que queremos construir é aquela que gera o tipo certo de capital social e produz o tipo certo de pertencimento para transformar cada um de nós em coautores do nosso próprio futuro.
Conclamo a todos para colaborar – divulgando, sugerindo, criticando – na construção deste espaço dedicado à construção do futuro que queremos.
Seja muito bem-vindo!
Hélio Teixeira