Trata-se de um movimento, um conceito e uma prática que está em processo de construção e desenvolvimento dentro das ciências e do ensino das ciências, sendo estes, dois campos distintos nos quais a interdisciplinaridade se faz presente.

Definir um objeto que está em construção, co-existindo com aquele que o estuda é uma tarefa difícil e até certo ponto parcial, uma vez que este objeto está se transformando e se alterando, assim, toda discussão sobre interdisciplinaridade é passível de análise comparativa com o material contemporâneo sobre o tema até que este esteja melhor desenvolvido e articulado, muito mais pela prática do que pela teoria, uma vez que a interdisciplinariedade esta acontecendo, e a partir disso, uma teoria tem sido desenvolvida.

Um estudo epistemológico é proveitoso para a delimitação do tema: Existem quatro palavras que são particularmente relacionadas entre si e todas delimitam uma abordagem cientifica e educacional:

Pluridisciplinaridade; Multidisciplinaridade; Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade.

O que há em comum nestas palavras é a palavra disciplinaridade/disciplina, que deve ser entendida como aquelas “fatias” dos estudos científicos e das disciplinas escolares, tais como matemática, biologia, ciências naturais, história, etc. e de um esforço em superar tudo o que esta relacionado ao conceito de disciplina. Assim, interdisciplinaridade é parte de um movimento que busca a superação da disciplinaridade.

Origem e conceitos

A interdisciplinaridade tem suas raízes na história da ciência moderna, sobretudo aquela produzida a partir do século XX, por isso para compreender este movimento, é necessário apresentar algumas considerações sobre esta temática.

Principio dos estudos científicos

Desde o século XV a ciência passou por uma grande mudança em toda a sua estrutura, o que resultou numa explosão de novos conhecimentos, novas práticas e técnicas de pesquisa, isso tem início com o renascimento e com a perda, por parte da igreja, do poder que exercia sobre o homem e a sociedade. Pesquisas até então condenadas e censuradas começavam a ser feitas, por exemplo pesquisa da anatomia humana através da dissecação de cadáveres. Galileu, Da Vinci, Copérnico, entre outros, surgem com grandes inovações e ideias que alterariam o pensamento humano. Com tudo isso, surge definitivamente a ciência e a pesquisa científica, tomando lugar entre a teologia e a filosofia, com a missão de apresentar a razão em oposição a fé e a pesquisa em oposição ao discurso e a retórica.

Disciplinarização do conhecimento

Num período muito curto, a ciência tem seus fundamentos desenvolvidos e sua principal função torna-se a de compreender as coisas partindo do macro, do todo, até chegar no micro, na menor particula, na menor parte, a fim de ter uma visão mais profunda do todo. Então o movimento que a ciência passa a realizar é partir da compreensão já existente das coisas, por exemplo, das ideias postas do que é o homem, seu corpo, seus membros, seus sistemas, o funcionamento do corpo, etc. em direção a menor particula que possa ajudar a definir e compreender esse mesmo homem, assim iniciam-se as pesquisas em anatomia humana, pesquisas em microbiologia humana, até, bem recentemente, chegar-se a um grande contingente de informações e conhecimentos do que é o homem, tendo chegado até o DNA. Importante observar que, segundo o exemplo dos estudos do homem, com o tempo o volume de estudos e de informações levantadas foi ficando grande ao ponto de ser necessária a criação de novas subcategorias que dessem conta de continuar as pesquisas e dominar os conhecimento adquiridos, em outras palavras, a disciplina de ciências passa a ter uma nova disciplina especifica que responderia então por um conhecimento especifico da ciência absoluta. Esse processo se repete exatamente como se dá a divisão celular, quando uma disciplina esta desenvolvida o suficiente, ela se divide e da origem a outra disciplina, distinta da primeira em seu objeto de estudo e exigente quando ao pesquisador que deve dominá-la, que é o especialista. Através deste movimento, partindo do século XV, em que existia somente a disciplina de ciência, que era dominada por todos os estudiosos envolvidos, chega-se ao século XXI com uma infinidade de disciplinas especializadas nas mais diversas frações da ciência, tais como ciências sociais, sociologia, antropologia, psicologia, anatomia geral, anatomia especifica ou neurologia, cardiologia, fisiologia, etc. ciências da natureza, biologia, microbiologia, ciências exatas, química, física, e muitas outras, cada uma sendo responsável por uma pequena fração, ou especialidade da ciência, e cada uma com um especialista diferente, que domina somente a sua especialidade, aquela fração do conhecimento.

Diferenciação entre disciplina escolar e cientifica

Embora o termo disciplina seja empregado para mencionar tanto as frações do conhecimento científico, como frações dos estudos escolares, e em muitos casos tenham os mesmos nomes, tais como história, matemática, química, física, etc. As ligações entre umas e outras esta somente nisso. Não há relação direta entre uma disciplina cientifica e uma disciplina escolar com mesmo nome, o que se dá é que remotamente o objeto de estudo de uma e outra disciplina é o mesmo, porém a disciplina escolar não apresenta todos os conhecimentos da disciplina cientifica, por vezes até foge um pouco desses conhecimentos, como no caso da disciplina escolar de Geografia, que não contempla a cartografia, a geologia, dentre outras. Isso se dá porque as funções de uma e outra disciplina são diferentes. É importante observar que as disciplinas escolares tomam muito daquilo que é produzido pelas disciplinas cientificas e reveste esses conhecimentos de funções didáticas que tem a função de levar os alunos a conhecerem, mesmo que minimamente, o que é produzido pelo homem em termos de conhecimento e estudos.

Aplicação na ciência

Como indicado anteriormente, a interdisciplinaridade surge no século XX como um esforço de superar o movimento de especialização da ciência e superar a fragmentação do conhecimento em diversas areas de estudo e pesquisa.

A ciência, no século XX, tornou-se especializada ao ponto de não ser mais possível realizar o movimento pretendido quando do início da especialização, que era chegar ao micro para conseguir ver o todo de forma plena e completa, e também, chegou-se ao ponto em que em algumas areas não era mais possível continuar aprofundando no conhecimento, tendo chegado ao limite do que era possível a determinadas especialidades pesquisar. Então a interdisciplinaridade surge como proposta para a realização do movimento inverso, partir do micro e retornar ao todo. Com isso, com a aplicação da interdisciplinaridade na ciência, surgem novas disciplinas agregadoras, que unem areas especificas do conhecimento a fim de compreender fenômenos que seriam incompreensíveis com os conhecimento de apenas uma área, como é o caso da bioengenharia, que une as areas da biologia e engenharia a fim de dar conta de estudos que uma ou outra disciplina sozinha não daria conta.

Novas práticas de pesquisa

Com a ampliação da aplicação da interdisciplinaridade na ciência, tem se desenvolvido novas práticas de pesquisa, muitas disciplinas que até então eram consideradas incomunicaveis, considerada a distância entre seus objetos de estudo, estão sendo reunidas para dar respostas a novos problemas de pesquisa e a questões que uma única disciplina não é capaz de responder.

Novas disciplinas científicas

Para Pompo houve o aparecimento de novos tipos de formações disciplinares. Ela organizou em três grandes tipos:

a) Ciências de fronteiras

São disciplinas híbridas que se constituem pelo cruzamento de duas disciplinas tradicionais, quer no âmbito das ciências exatas e da natureza (por exemplo, a Biomatemática, a Bioquímica ou a Geofísica), das ciências sociais e humanas (Psicolinguística ou História Econômica), quer entre umas e outras (Sociobiologia, Etologia), quer ainda entre ciências naturais e disciplinas técnicas (Engenharia Genética ou Biónica).[1]

b) Interdisciplinas

São novas disciplinas que surgem do cruzamento, também ele inédito, das disciplinas científicas com o campo industrial e organizacional. Por exemplos: Relações Internacionais e Organizacionais, Sociologia das Organizações, Psicologia Industrial, ou ainda esse eloquente exemplo que é constituído pela Operational Research, investigação operacional que resultou da conglomeração, ou mesmo da fusão, entre cientistas, engenheiros e militares.[1]

c) Interciências

São várias, e é impossível estabelecer qualquer espécie de hierarquia entre elas. Os exemplos mais pertinentes são a Ecologia, as Ciências Cognitivas, a Cibernética e as Ciências da Complexidade. Neste conjunto temos várias novidades epistemológicas. Por exemplo, no que diz respeito às ciências cognitivas.[1]

Aplicação na educação

A interdisciplinaridade está presente na educação desde que começou a ser aplicada na ciência.

Na educação básica

Muitos projetos e práticas tem sido adotados, sobretudo nos terceiro e quarto ciclo e ensino médio, numa tentativa de superar a fragmetação do conhecimento e criar uma relação entre o conhecimento e a realidade do aluno.

No nível superior

Há um destaque maior para a interdisciplinaridade no nível superior, dadas as questões da reforma do nível superior e o desafio de formar profissionais mais bem preparados para o mercado de trabalho.

Na prática

Na pratica a interdisciplinaridade é um esforço de superar a fragmentação do conhecimento, tornar este relacionado com a realidade e os problemas da vida moderna. Muitos esforços tem sido feitos neste sentido na educação. Na ciência, por sua vez, os esforços estão na busca de respostas, impossíveis com os conhecimentos fragmentados de uma única área especializada.

Principais autores

A pesquisa sobre interdisciplinaridade ainda é muito recente, mesmo assim existem alguns autores já destacados por sua produção sobre o tema, são eles: Ivani Fazenda, que possui várias publicações sobre o tema e sua relação com a educação e é coordenadora de uma equipe de pesquisadores da PUC-SP que desenvolve diversas pesquisas sobre o tema; Hilton Japiassu, que possui também diversas publicações sobre o tema, tanto em sua manifestação na educação como na ciência; em Portugal se destaca a autora Olga Pombo, que é também pesquisadora sobras as manifestações do tema no Brasil e em Portugal e já esteve no país ministrando diversas palestras sobre o assunto.

Interdisciplinaridade é a integração de dois ou mais componentes curriculares na construção do conhecimento.

A interdisciplinaridade surge como uma das respostas à necessidade de uma reconciliação epistemológica, processo necessário devido à fragmentação dos conhecimentos ocorrido com a revolução industrial e a necessidade de mão de obra especializada.

A interdisciplinaridade buscou conciliar os conceitos pertencentes às diversas áreas do conhecimento a fim de promover avanços como a produção de novos conhecimentos ou mesmo, novas sub-áreas.

Hélio Teixeira - Cientista-chefe do Centro de Estudos e Pesquisa em Ciência de Dados e Inteligência Artificial do IHT - é um estudioso da aprendizagem e da criatividade humanas como processos segundo ele "participativos e sociotecnicamente distribuídos." Sua pesquisa busca entender o que ele chama de "estruturas sociotécnicas de pertencimento necessárias à emergência da aprendizagem e da criatividade nos grupos humanos, concebidos como sistemas complexos." Ele adota uma abordagem transdisciplinar, articulando saberes da ciência da complexidade, ciências da aprendizagem, psicologia social, design participativo, inteligência artificial e psicologia cognitiva. Cientista de dados especializado em modelagem de dados e inteligência artificial algorítmica. Apaixonado por Modelagem Baseada em Agentes, com predileção pelos ambientes Mesa/Python e NetLogo, e pelo desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial. É fundador do Instituto Hélio Teixeira (IHT), do ColaboraLab e do Programa Letramento Tecnológico.

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