Teoria da mente é a habilidade de atribuir estados mentais – crenças, intenções, desejos, conhecimento, etc – a si próprio e aos outros, e de compreender que os outros possuem crenças, desejos e intenções que são distintas da sua própria. Déficits nessa função acontecem em pessoas com autismo, esquizofrenia, déficit de atenção, bem como consequência de intoxicação cerebral decorrente de abuso de álcool. Embora existam abordagens filosóficas aos questionamentos levantados por essas discussões, a Teoria da Mente como tal é distinta da Filosofia da Mente

Definição da Teoria da Mente

A Teoria da Mente é uma teoria na medida em que a mente não é diretamente observável. O pressuposto que outros têm uma mente é chamado de teoria da mente porque cada humano só pode intuir a existência de sua própria mente através de introspecção, e ninguém tem acesso direto à mente de outra pessoa. Normalmente é aceite que outros possuem mentes por analogia com a própria mente, e baseado na natureza recíproca da interação social, como observado na atenção compartilhada, uso funcional da linguagem e a compreensão das emoções e ações dos outros. Possuir uma teoria da mente permite se possa atribuir pensamentos, desejos e intenções aos outros, predizer ou explicar suas ações e pressupor suas intenções. Como definido originalmente, a teoria da mente permite compreender que estados mentais podem ser a causa – e consequentemente serem utilizados para explicar e predizer – do comportamento dos outros. Ser capaz de atribuir estados mentais aos outros e compreendê-los como causa do comportamento implica, em parte, que uma pessoa seja capaz de compreender a mente como um “gerador de representações”. Se uma pessoa não possui a teoria da mente completamente desenvolvida, isto pode ser um sinal de comprometimento cognitivo ou prejuízo no desenvolvimento.

Teoria da mente parece ser uma habilidade potencial inata em humanos, mas são necessárias experiências sociais durante muitos anos para ativa-la. Diferentes pessoas podem desenvolver teorias da mente mais ou menos efectivas. Empatia é um conceito relacionado, significando a experiência de reconhecimento e compreensão dos estados mentais, incluindo crenças, desejos e particularmente emoções dos outros, frequentemente caracterizada como a habilidade de “compreender o ponto de vista do outro”. Estudos neuro-etológicos de comportamentos animais recentemente desenvolvidos sugerem que mesmo roedores podem exibir habilidades éticas ou empáticas. Teorias neo-Piagetianas sobre o desenvolvimento cognitivo mantém que a teoria da mente é um produto da habilidade hipercognitiva dos humanos para registar, monitorizar e representar seu próprio funcionamento.

O número de pesquisadores da teoria da mente em diferentes populações (humanas e animais, adultos e crianças, com desenvolvimento normal e atípico) cresceu rapidamente nos últimos 40 anos desde o trabalho de Premack e Woodruff “Does the chimpanzee have a theory of mind?”, assim como cresceram as diferentes teorias da mente. O emergente campo de discussão da neurociência social também começou a se interessar por este tipo de debate, imaginando os seres humanos em atividades que necessitam da compreensão de uma intenção, crença ou outro estado mental.

Uma explicação alternativa para a Teoria da Mente (ToM) é fornecida dentro do Behaviorismo e possui evidências empíricas significativas para uma explicação funcional tanto da perspectiva da fala quanto da empatia. A abordagem mais desenvolvida dentro do behaviorismo é a chamada “Relation Frame Theory”. De acordo com essa visão da empatia e da fala, estas estão em relação direta com um complexo sistema de habilidades relacionais baseadas na discriminação e respostas verbais à relações ainda mais complexas sobre o si próprio, os outros, espaço e tempo, e a transformação destas funções através de relações estabelecidas.

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Hélio Teixeira - Cientista-chefe do Centro de Estudos e Pesquisa em Ciência de Dados e Inteligência Artificial do IHT - é um estudioso da aprendizagem e da criatividade humanas como processos segundo ele "participativos e sociotecnicamente distribuídos." Sua pesquisa busca entender o que ele chama de "estruturas sociotécnicas de pertencimento necessárias à emergência da aprendizagem e da criatividade nos grupos humanos, concebidos como sistemas complexos." Ele adota uma abordagem transdisciplinar, articulando saberes da ciência da complexidade, ciências da aprendizagem, psicologia social, design participativo, inteligência artificial e psicologia cognitiva. Cientista de dados especializado em modelagem de dados e inteligência artificial algorítmica. Apaixonado por Modelagem Baseada em Agentes, com predileção pelos ambientes Mesa/Python e NetLogo, e pelo desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial. É fundador do Instituto Hélio Teixeira (IHT), do ColaboraLab e do Programa Letramento Tecnológico.

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