Embora as perspectivas do behaviourismo e da fenomenologia pareçam muito diferentes, elas partilham um fundamento ontológico e uma problemática epistemológica comuns; são psicologias cartesianas. Tentar construir uma teoria geral das representações sociais sobre uma ou outra das psicologias cartesianas tradicionais é um empreendimento destinado ao fracasso. A fenomenologia não tem espaço para situar de modo verdadeiramente social o cognitivo, da mesma forma que o behaviourismo não tem espaço realmente cognitivo para o social.
Tentar construir uma teoria geral das representações sociais sobre uma ou outra das psicologias cartesianas tradicionais é um empreendimento destinado ao fracasso
Em vez de uma oposição bipolar entre mente e corpo – a qual, ao opor subjetivo/objetivo e interno/externo, está na base do cartesianismo – é possível desenhar um espaço conceitual de duas dimensões (ver figura abaixo adaptada do trabalho de Horace Romano Harré). A primeira dimensão corresponde ao caráter público – constatável para todos – ou privado – guardado para si – da manifestação de um processo cognitivo ou de um estado afetivo. A segunda dimensão corresponde à localização do processo cognitivo ou estado afetivo – como pertencendo a um indivíduo isolado ou como necessitando de grupos para existir.
O cruzamento destas duas dimensões origina quatro quadrantes sobre os quais se podem localizar diversos fenômenos psicológicos. Tomemos o exemplo da memória. As palavras que se referem à memória aparecem ao mesmo tempo em relatos e recordações pessoais e em relatos criados por instituições e que determinam parcialmente a ação futura de seus membros. Podemos localizar o primeiro caso – o das recordações – no quadrante individual-pessoal e o segundo – da memória institucional – no quadrante coletivo social.
Interessante.